1 em cada 4 gestores de RH participa de apostas, segundo pesquisa

Um levantamento realizado pela Fiter, empresa de tecnologia de soluções de RH, apontou que 1 em cada 4 gestores de recursos humanos admite ter participado de apostas, como bets, cassinos e loterias, nos últimos 12 meses. Desses, 18% observaram impactos negativos das apostas no ambiente de trabalho, como queda de produtividade e instabilidade emocional. O estudo “Happiness Brasil 2025” ouviu 122 líderes de RH de empresas de médio e grande porte, revela reportagem do VALOR.

Sérgio Amad, CEO da Fiter e responsável pela pesquisa, observa que é importante entender que vivemos um fenômeno mais amplo e silencioso: a digitalização intensa das relações, presente nas famílias, nas casas e nas escolas. “Ou seja, antes das apostas, já existia o burnout digital, que é o esgotamento mental causado pelo excesso de estímulos visuais e cognitivos vindo das telas”, nota.

O uso excessivo de redes sociais também aparece nos resultados do estudo: 70,5% dos entrevistados relataram efeitos negativos das plataformas no trabalho, com sintomas associados como procrastinação, ansiedade, depressão, baixa autoestima, isolamento social e até dependência.

“Quando as apostas entram nesse ambiente digital, somam uma nova camada de estímulo, porque elas trabalham com a imprevisibilidade e com a sensação de recompensa imediata, o que coloca o cérebro em constante estado de alerta”, explica o especialista.

Ele pontua que no ambiente de trabalho, especialmente entre as lideranças, que já enfrentam sobrecarga emocional e necessidade de regulação afetiva, o impacto é ainda maior. “O envolvimento com apostas intensifica o quadro de ansiedade, impulsividade e desatenção. Isso cria um cenário de transbordo mental, onde o emocional começa a operar acima da capacidade de autorregulação”, detalha.

Ainda segundo a pesquisa, 38,4% dos gestores relatam sentir esgotamento emocional “sempre ou na maioria das vezes”. “O grande ponto, é que, além das atividades técnicas, os líderes precisam lidar com demandas emocionais e afetivas, ou seja, fazer gestão de pessoas”, comenta Amad. “Eles passam boa parte do tempo resolvendo conflitos e acolhendo questões emocionais, e isso naturalmente gera uma sobrecarga de cortisol, o hormônio do estresse, que se mantém alto nesses profissionais”.

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Michel Cabral, CEO da Vixting, HRtech e health tech especializada em saúde ocupacional, afirma que o burnout tem impactado de forma desproporcional as lideranças porque elas ocupam um espaço de alta pressão e contam com uma baixa rede de apoio. “Enquanto são responsáveis por inspirar, tomar decisões complexas e garantir resultados, muitas vezes não encontram espaço seguro para expressar fragilidades”, analisa.

“Além disso, lideranças são constantemente pressionadas a dar conta de tudo: performance, gestão de pessoas, inovação, cultura, metas financeiras, o que gera uma sobrecarga emocional e cognitiva contínua”, observa.

Amad sugere que para ajudar a mitigar a situação, as companhias podem implementar programas de bem-estar integral, trazendo conteúdos e pílulas de conhecimento sobre o uso consciente das mídias sociais, das apostas e até mesmo educação financeira para os profissionais. “Também é fundamental que as empresas criem e mantenham laudos de risco psicossocial”, acrescenta. Na visão do especialista, as organizações devem não apenas coletar esses dados, mas fazer medições regulares.

Ainda de acordo com o CEO, também é importante considerar a integralidade do bem-estar e promover consciência sobre fisiologia, atividades físicas, alimentação, sono e saúde financeira. “Quanto mais saudáveis e financeiramente educadas as pessoas forem, maior será a mitigação dos riscos relacionados à exposição às apostas e ao estresse geral do ambiente de trabalho”, defende.

Fonte: BNL

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