A publicidade de casas de apostas passou a dominar todos os espaços publicitários no futebol brasileiro. Uma análise recente feita pela DW revelou que, durante o ano de 2024, sete em cada dez placas publicitárias ao redor dos estádios do Brasileirão promoviam jogos on-line e apostas esportivas.
O crescimento desses anúncios, que dobraram desde 2019, não apenas tem impacto visual e financeiro no esporte, mas também reflete “uma emergência silenciosa que afeta milhares de brasileiros com problemas de jogo compulsivo, especialmente em setores de baixa renda”, de acordo com a pesquisa.
Dessa forma, a DW desenvolveu um modelo de inteligência artificial para rastrear a evolução da publicidade nas transmissões esportivas brasileiras entre 2019 e 2024, utilizando imagens disponíveis no YouTube. A investigação mostrou que 70% dos anúncios visíveis na última rodada da edição de 2024 do Campeonato Brasileiro eram de casas de apostas. O número é 16 pontos percentuais maior do que a Colômbia – a segunda colocada na lista – e é mais do que o dobro do que as principais ligas europeias.
A dependência financeira dos clubes brasileiros em relação à indústria de jogos também ficou evidente em maio de 2025, quando foi apresentado ao Congresso um Projeto de lei que propunha restringir severamente a promoção desse tipo de serviço.
Como resposta, mais de 50 clubes assinaram uma carta conjunta alertando que, se a lei avançar, poderão perder até R$ 1,6 bilhão. “Essas restrições, se não forem ajustadas, provocarão o colapso financeiro de todo o ecossistema esportivo, especialmente do futebol brasileiro”, afirmaram na declaração, embora também tenham reconhecido que o setor precisa de mais regulação.
Em entrevista ao SBC Notícias Brasil em setembro de 2024, Fernando Paz, Sócio na SOHO Sports & Brands, afirmou que uma medida que visasse a proibição de patrocínios de casas de apostas seria “uma catástrofe para os clubes de futebol”.
Para Paz, isso poderia levar, inclusive, a uma debandada de talento dos clubes brasileiros: “Hoje, os clubes esperam os investimentos nesse patamar e, se você for dar um passo para trás, vai ser muito difícil voltar a ter esses valores investidos por outras marcas. O mercado não chega aos valores que estão sendo praticados pelas casas de apostas. Então, seria bem complicado para os clubes, que não estão preparados para isso”.
Por sua vez, o doutor Jamie Torrance, professor e pesquisador da Universidade de Swansea, incluído na pesquisa, afirmou: “Integrar essas marcas ao ambiente do esporte, que mobiliza tantas emoções, funciona como uma forma de condicionamento clássico”.
E acrescentou: “As pessoas criam laços afetivos com seus times, e as casas de apostas buscam se inserir nesse vínculo emocional. É o mesmo mecanismo usado ao recorrer a influenciadores ou celebridades”.
Os números mais recentes do Brasil
Dados de tráfego monitorados pelo Aposta Legal mostraram que, em maio de 2025, 98,7% dos acessos a sites de apostas legais no Brasil foram feitos por dispositivos móveis, sendo apenas 1,3% via computadores. Essa tendência pode se manter — ou até crescer — com o lançamento de aplicativos oficiais de apostas na Google Play Store.
Em maio deste ano, os sites de apostas autorizados acumularam mais de 2 bilhões de visitas no país. O tempo médio de navegação, que era de 13 minutos, subiu para 14 minutos por acesso. Mais de 77% dos usuários vão além da página inicial, o que indica grande interesse e engajamento com o conteúdo.
Fonte: SBC